Além de ajudar no tratamento de saúde de pessoas carentes, o projeto está evitando o descarte incorreto de remédios no meio ambiente “Eu me emocionei com uma mãe.
Além de ajudar no tratamento de saúde de pessoas carentes, o projeto está evitando o descarte incorreto de remédios no meio ambiente
“Eu me emocionei com uma mãe. Com o filho no colo e muito nervosa ela me disse que o marido era caminhoneiro e tinha deixado R$ 50 para pão e leite e, nesse meio tempo, a criança tinha fica doente e precisava de um antibiótico. O remédio custava mais de R$ 100, então, ela não tinha dinheiro suficiente. O que ela ia fazer? Felizmente, a gente tinha o medicamento e pode entregar a essa mãe. Nesse momento, para todas nós, já valeu”, relembra a primeira-dama de Farroupilha, Francis Somensi. A situação, que fez com que a farmacêutica se emocionasse ao lembrar, aconteceu na Farmácia Solidare, projeto idealizado por ela, que neste mês completa dois anos de funcionamento.
O programa visa aproveitar as “sobras” de remédios, através da doação voluntária feita por cidadãos e por empresas, reduzindo o desperdício e o descarte incorreto, evitando a automedicação e, é claro, contribuindo para o tratamento de saúde de pessoas carentes, através da doação dos medicamentos. “Os alcances sanitário e social são complexos e diversos. Só em retirar os remédios das residências, já se produz um efeito fantástico. O estímulo dado a população para doá-los desperta o espírito de solidariedade e consciência de suas responsabilidades sociais e ambientais. Levarei inúmeros aprendizados comigo durante toda a vida. Carrego o sentimento de satisfação em poder ajudar pessoas e acredito que podemos somar para um mundo mais humano e solidário, através de pequenas atitudes que façam a diferença”, destaca Cleusa Tosin, funcionária cedida pela Prefeitura e uma das colaboradoras mais antigas do projeto.
A iniciativa foi instituída oficialmente em abril de 2015, por meio do Decreto N.º 5.841, porém, seu funcionamento se deu em junho do mesmo ano, quando alguns medicamentos já estavam à disposição da comunidade, como lembra Francis. “Aos poucos fomos mostrando a capacidade que a farmácia tinha de ajudar, as pessoas foram colaborando com doações, não foi fácil começar a receber volume, e hoje temos alguns parceiros que acreditam na seriedade do projeto, sabem que tudo que sai daqui tem respaldo de receituário médico e orientação nossa como profissional”, conta. Desde que entrou em operação, a Solidare já recebeu mais de 700 mil itens entre comprimidos e frascos.
A quantidade de medicamentos já descartada nesses 24 meses também chama a atenção. Uma tonelada de itens não foi parar no lixo comum das casas e no vaso sanitário – atitudes comuns no Brasil – e consequentemente não contaminarão o solo e a água. “Às vezes as pessoas ficam em dúvida, perguntam como que ficou guardado, mas é importante garantir que tudo passa por rigorosa seleção e antes disso, a própria indústria farmacêutica realiza testes de diversos tipos. Caso não tenha como ocupá-lo, temos uma parceria com a Secretaria de Meio Ambiente, que encaminha para uma empresa que realiza o serviço corretamente”, explica Francis.
A farmácia ganha ainda mais sentido quando muda de verdade a vida de uma pessoa. Até agora foram mais de 5,7 mil pessoas beneficiadas. Para Francis, que trabalha diretamente com os usuários toda terça-feira, quando os medicamentos são distribuídos, o sentimento é de gratidão. “Para mim como profissional, é muito legal, é gratificante, é uma tarde que eu passo tranquila e me sinto com o dever cumprindo. Não que outro tipo de campanha não tenha significado, mas o medicamento muitas vezes ele muda o rumo da vida pessoa. Uma infecção que não é curada pode fazer com que a pessoa não tenha mais a mesma qualidade de vida ou nem sobreviva. Além de que é um gasto imprevisível. Então, a Solidare veio para isso, para dar um suporte, ajudar essas pessoas nesse momento que não tem condições de conseguir o tratamento. Tenho certeza que as pessoas não vem aqui só porque é de graça, se vem é porque realmente precisa”, enfatiza Francis.
Uma das farroupilhenses que graças a farmácia pode fazer seu tratamento é a Dona Daliris de Mesquita, 51 anos. A moradora do bairro Primeiro de Maio, recorre a Solidare para conseguir os remédios para ela e também para o marido. “Desde que abriu, eu pego remédios para diabetes, pressão alta e depressão. Para mim é muito importante, por que um dos que o médico receitou para meu esposo é muito caro, custa R$ 226 e ainda não dá para o mês inteiro. Significa bastante para nós, é um gasto a menos. Com essa ajuda posso comprar outras coisas para dentro de casa, que nem a comida”, diz ela.Cleusa lembra ainda da história de uma gestante, que precisava fazer uso diário de um medicamento caro durante toda a gravidez. “Ela encaminhou o processo para o Estado para recebimento gratuito. Como a liberação do processo estava demorando ela veio para ver se tínhamos. Havia para oito dias. Fiquei com o telefone dela. Uns dias depois entrou uma doação que supriu a necessidade até a liberação por parte do estado. No dia 13 desse mês, ela voltou mostrando a foto do bebê, com 16 dias, super fofo”, conta.
O crescimento da iniciativa foi tão grande que ultrapassou as barreiras do município. Desde sua implantação, a Solidare vem recebendo visitas de outras cidades, como Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Cotiporã, de estados como São Paulo e até de fora do país, como o Uruguai. “É um filho aqui de Farroupilha. A gente quer ver ele crescer em todo o Brasil, temos essa vontade e temos tido atenção com todos os municípios que vem buscar informações. Mostramos que dá certo sim. Fomos apresentados até em Brasília e muitos municípios estão nos procurando. O que isso significa para nós? Orgulho”, relata Francis.
Clique e veja a reportagem do Jornal Nacional
Com tamanha visibilidade, a Solidare foi parar nas telas de TV, em uma data bem especial. No dia 25 de dezembro, a cidade ganhou um belo presente ao ver a boa prática retratada no Jornal Nacional. “Quando saiu a reportagem no Jornal Nacional, no dia de Natal, quase enfartei. E ainda apresentada pelo Willian Bonner. Ali, a farmácia tornou Farroupilha conhecida a nível nacional e internacional como cidade que faz a diferença. Desde o dia que a Francis apresentou a ideia, acreditei que iria fazer a diferença e que ela iria deixar um legado, mas não imaginava que seria para o Brasil e tão rápido”, expressa Cleusa, com orgulho estampado no rosto.
A importância da farmácia também foi reconhecida com o 1° lugar no Prêmio Boas Práticas da FAMURS, em 2016. Na ocasião, 202 projetos, de 117 prefeituras, disputaram o primeiro lugar em 11 categorias. Na saúde, Farroupilha foi a cidade vitoriosa. No mesmo ano, recebeu o Troféu Prêmio Gestor Público, que reconhece publicamente as melhores propostas das administrações públicas municipais do Rio Grande do Sul. A premiação é organizada pelos Auditores-Fiscais da Receita Estadual do RS, representados pelo Sindicato dos Servidores Públicos da Administração Tributária do RS (Sindifisco-RS) e pela Associação dos Fiscais de Tributos Estaduais do RS (Afisvec).
Para o futuro, a primeira-dama sonha em ampliar o serviço ofertado, através de uma atenção diferenciada aos usuários. “Não é animador dizer que as pessoas precisam cada vez mais de remédios, mas percebemos que elas estão cada vez mais doentes, cada vez mais cedo procuram antidepressivos e é muito triste isso. Nós vivemos em um mundo cheio de pressões, pressão de mídia, da televisão, do telefone, da internet, e às vezes, todo esse exagero vira em ajuda medicamentosa. Por isso, temos um trabalho de orientação muito grande para fazer, de mostrar as pessoas um novo sentido na vida, através do voluntariado, por exemplo”.
Enquanto pensa nos projetos a longo prazo, a participação em outros já está em andamento, como no “Rodas de Conversas”, programa que surgiu a partir da 1ª Conferência Municipal da Saúde da Mulher, com o objetivo de reunir profissionais de diferentes áreas para levar assuntos do cotidiano aos jovens. Neste mês foi realizado o primeiro encontro no Colégio Estadual Farroupilha. A Solidare participou falando sobre os anticoncepcionais disponíveis, além de outros medicamentos. “Uma das metas para o segundo semestre é trabalhar junto às escolas. Da nossa parte queremos abordar a prevenção da gravidez na adolescência, orientações sobre doenças sexualmente transmissíveis, sobre a variedade de anticoncepcionais que temos, muitos com baixa dosagem hormonal. É importante conversar sobre isso, por que muitas vezes eles não têm essa conversa com o pai e com a mãe. Não é para fomentar e nem incentivar nada, é sim para orientar os adolescentes”, conta Francis.
Graças as doações, além dos anticoncepcionais, a farmácia também está abastecida com poli vitamínicos, analgésicos, antitérmicos, anti-inflamatórios, anti-hipertensivos, diabete, xaropes, antiasmáticos, cremes vaginais, antibióticos e psicotrópicos. Ainda mantém parcerias com consultórios médicos, Unimed, distribuidoras de medicamentos, laboratórios e outras drogarias.
Os interessados em ajudar podem deixar os itens que já não usam mais nos pontos de coletas, localizados em lugares estratégicos nos bairros e centro da cidade: Unidades Básicas de Saúde, Caisme, Centro Administrativo da Prefeitura, Centro de Atendimento ao Cidadão (CEAC), Bigfer, Malharia Anselmi, agências do Sicredi, Câmara de Vereadores e Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Podem ser doados qualquer tipo de medicação, inclusive fora das caixas.
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Texto: Renata Parisotto
Design : Jonas Viega
Fotos: Adroir Fotógrafo e Jonas Viega
Edição: Assessoria de Imprensa e Comunicação Social
imprensa@farroupilha.rs.gov.br
Data de publicação: 20/06/2017