“Não há tempo, tão curta é a vida, para discussões banais, desculpas, amarguras, tirar satisfações.
“Não há tempo, tão curta é a vida, para discussões banais, desculpas, amarguras, tirar satisfações. Só há tempo para amar, e mesmo para isso, é só um instante”, diz psicóloga, parafraseando Mark Twain
Dona Terezinha Maria Henz, moradora de Farroupilha, vai completar 72 anos nesta sexta-feira, dia 09 de junho. As sete décadas lhe trouxeram, é claro, muita sabedoria. Os aprendizados foram tantos, que hoje ela já não se preocupa com problemas pequenos e ama muito mais sua vida. “Atualmente é bem melhor, não tenho tantas preocupações. Já trabalhei, criei meus filhos, ajudei criar meus netos e sou aposentada. A gente se vira, é independente e a saúde, se melhorar, estraga”, diz ela, com sorriso largo nos lábios e brilho nos olhos. Aliás, os olhos chamam mesmo atenção. São marcados pela maquiagem, que ela faz questão de mostrar, especialmente quando carrega com orgulho a faixa de Rainha da Terceira Idade de Farroupilha. “Parece que tenho 20 anos. Me sinto muito bem. Quando fui pra Nova Petrópolis, concorrer no Concurso Top Model da Festimalha, fui paparicada como nunca, batiam fotografias, chamavam nos corredores, eu estava nas nuvens, não precisei nem ganhar”, conta a simpática senhora, provando que a idade não está no corpo, e sim, na mente de cada um.
Muitos dos momentos felizes que Terezinha tem passado nos últimos anos aconteceram em um local bem especial para centenas de idosos que moram em Farroupilha: o Centro de Convivência Idosos São José. O espaço, localizado atualmente na Rodovia dos Romeiros (fundos do CTG Ronda Charrua) e administrado pela Prefeitura, através da Secretaria de Desenvolvimento Social e Habitação, iniciou suas atividades em setembro de 1997, com o objetivo de contribuir para o processo de envelhecimento ativo, saudável e autônomo da população e hoje oferece o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, que integra a Política Nacional de Assistência Social. Através de diversas atividades oferecidas a este público, os vínculos familiares, a sociabilidade e o convívio comunitário são fortalecidos, além de prevenir a ocorrência de situações de risco social, ligados a essa etapa de desenvolvimento do ser humano. “O Centro possui grande importância para os seus usuários, já que representa um espaço de vida, saúde e sociabilidade. Aqui, eles encontram muito mais do que uma gama variada de atividades das quais podem usufruir, mas também um espaço de relacionamento, onde podem trocar experiências, aprendizados e vivências, reforçando a sensação de pertencimento e a autoestima através da inserção e convívio social”, destaca a psicóloga Carina Danna.
Atividades artísticas, esportivas, culturais, informativas e de lazer são disponibilizadas de segunda a sexta-feira, de forma gratuita a todos que tenham 60 anos ou mais e que residem na cidade. De acordo com a Coordenadora do Centro, Ana Maria da Silva, os idosos podem ser encaminhados via rede socioassistencial ou de forma espontânea. “Para participar tem que vir até aqui e fazer a inscrição. O processo é simples, rápido, sem nenhum custo e o início é imediato. É bom lembrar que temos transporte gratuito todos os dias e além das ofertas regulares, eventualmente são realizadas palestras, confraternização com grupos de outros municípios, oficinas diversas, comemorações de datas especiais, e os passeios. Em maio estivemos em Marcelino Ramos, em abril fomos a Nova Petrópolis e agora em julho vamos para Antônio Prado em um café colonial. Os passeios são pagos a parte e mesmo quem não frequenta regularmente pode ir junto”, explica. São realizados em média 1600 atendimentos mensais, mas o número já chegou a quase dois mil, em programações especiais, como às alusivas ao Dia das Mães, em maio. Ana conta que a ginástica é muito procurada pelas mulheres, que tem uma preocupação maior com a saúde. “São umas 60 pessoas que praticam, mais as meninas que gostam de se cuidar, mas nada supera o baile de integração, na terça-feira. Quando tem 190 pessoas podemos dizer que é pouca gente. Chega até 230 em dias de eventos. Eles adoram, se divertem, dançam, são bem participativos”, destaca. Inclusive, Décio Henz, 75 anos, marido da Dona Terezinha, sai da sua chácara toda a semana especialmente para ir para o baile. “Quando eu tinha empresa, dava uma escapada de meia hora e vinha dançar. Depois consegui me livrar e agora estamos morando um dia no centro só para poder participar”, enfatiza ele.
Já sua esposa, gosta mesmo é do câmbio, um jogo de voleibol adaptado, que tem como principal meta promover a qualidade de vida por meio do esporte, valorizar a convivência, a troca de experiências e a construção de novas amizades. “Eu amo cambio. A gente vai para as competições, faz amigos, corre, corre, corre, é divertido, a melhor coisa que tem. Por isso que adoro vir aqui, faz uns 10, 12 anos que frequento, as meninas atendem bem, tem pessoas aqui que é de botar lá no alto , muito atenciosas”, conta Terezinha.
As experiências do casal, que está junto há 52 anos, mostram que a terceira idade pode ser enxergada de outro ângulo. Assim como em qualquer outra fase da vida, se a saúde estiver em dia, existem possibilidades de se viver melhor, com protagonismo e autonomia, a partir da convivência e da sociabilidade, como enfatiza a psicóloga Carina. “A convivência com outras pessoas constitui-se em aspecto fundamental para saúde física e psíquica em qualquer etapa da vida do ser humano. Com a aposentadoria, o indivíduo desliga-se do mercado de trabalho e deixa de ter o convívio social atrelado à rotina profissional, além de passar por mudanças na autoimagem relacionadas ao término do período produtivo laboral. Por isso, é fundamental que ele crie e preserve outros espaços de convívio, buscando evitar situações de isolamento e encontrando novas formas de usufruir com qualidade um novo tempo que lhe é disponível, podendo encontrar, nesse processo, muitos benefícios no desfrute das relações interpessoais. As relações sociais também contribuem com a saúde do cérebro, ou seja, a convivência mantém o indivíduo mais ativo mentalmente, preservando habilidades de memória, atenção e raciocínio lógico por mais tempo”, destaca.
Assim como a dupla, Seu Dionir Pasqual Tamiosso, 79 anos, também nos faz refletir. Ele é um dos participantes mais ativos do Centro de Convivência e usa o espaço para enfrentar as dificuldades da vida, reconhecendo a importância e os benefícios de manter-se ativo. “Me sinto muito bem aqui, me ajuda muito a enfrentar os dias, é o que me salva, não coloco problema na cabeça, é meu maior presente e me faz muita falta se eu não venho aqui. Jogamos cartas, faço muito brincadeira, gosto muito de contar piada”, ressalta. Carina reforça com palavras, o que Seu Dionir vive na prática “É importante lembrar que o convívio e a sociabilidade garantem ao indivíduo melhores condições de lidar com as adversidades da vida, algumas comuns nesta etapa do desenvolvimento, como perdas, adoecimento e morte, já que oportuniza a troca de experiências e a construção de redes de apoio com pessoas que possuem vivências semelhantes, criando processos de identificação que podem ser muito reconfortantes diante de situações de crise naturais do período”.
Outra iniciativa que está ajudando muitos idosos, que pelo andar natural da vida se encontram mais sozinhos, é o Grupo de Reflexão, Diálogo e Convivência. Além de poder dividir suas vivências, por vezes não tão alegres, o momento serve para eles receberem informações sobre assuntos diferentes e refletirem. “São dois encontros mensais com a proposta de conversar, trocar e compartilhar ideias, experiências, aprendizados e informações acerca de assuntos importantes na vida de todos nós. O trabalho é realizado através de atividades de cunho reflexivo, vivencial e informativo, com o uso de dinâmicas de grupo e recursos variados, como música, fotografia, poesia, entre outras, buscando criar situações criativas, desafiadoras, agradáveis e estimulantes que permitam pensar e repensar questões através da interação com o outro. A atividade possui boa adesão e os idosos são bastante participativos, sendo que a frequência média é de 20 a 30 usuários por encontro. Além do Grupo, contamos também com a atividade de acolhimento, que são atendimentos realizados de forma individual e caracterizam-se como sendo pontuais e não terapêuticos. O intuito desses atendimentos é oportunizar acolhimento, orientação e encaminhamentos necessários a partir da demanda apresentada. Esse espaço de escuta pode ser acessado livremente pelos usuários, bastando fazer a solicitação”, explica.
O Centro de Convivência Idosos São José, é uma das propostas oferecidas pela Prefeitura que colabora para a qualidade de vida desta faixa etária, conforme ressalta Carina “ Tendo em vista que a parcela idosa da população atualmente é significativa e crescente, pode-se afirmar que os Centros de Convivência de Idosos possuem uma importância central nas políticas públicas de atenção à pessoa idosa desenvolvidas nos municípios, já que atuam de forma preventiva e proativa, contribuindo para a promoção e manutenção da saúde física, mental e psíquica dos seus usuários, garantindo uma melhor qualidade de vida nessa preciosa etapa do desenvolvimento”.
Recentemente, a Revista Exame divulgou o Índice de Desenvolvimento Urbano para Longevidade, elaborado pelo Instituto de Longevidade Mongeral Aegon em parceria com a FGV, onde Farroupilha aparece como a 40ª melhor pequena cidade para envelhecer, entre das 348 cidades brasileiras que têm entre 50 mil e 100 mil habitantes. Os municípios foram classificados segundo sete variáveis: Indicadores Gerais; Cuidados de Saúde; Bem-Estar; Finanças; Habitação; Educação e Trabalho e Cultura e Engajamento, que receberam pesos com base nas principais necessidades da população na terceira idade. O clima também foi levado em conta para a finalização do ranking, que tirou pontos dos municípios de acordo com a frequência com que eles apresentam dias com altas temperaturas, chuvas intensas ou baixa umidade. Essas cidades também foram avaliadas segundo classificações específicas – com diferentes pesos para cada variável – com foco na parcela com idade entre 60 e 75 anos e para população acima dessa faixa. “É uma cidade ótima para se viver. Se fosse escolher, a gente não poderia achar outra igual, é uma cidade pequena, unida, eu adoro morar aqui”, avalia Henz.
Mesmo com os incentivos e o desenvolvimento de políticas públicas, esclarece a psicóloga, é muito comum que os idosos se deparem com a sensação de não serem mais úteis durante ou imediatamente após o processo da aposentadoria. “Perde-se a referência de inserção no mercado produtivo, o que pode gerar sentimentos negativos e um declínio da autoimagem. Essas sensações também podem advir de outros processos comuns a essa etapa, como os declínios naturais da idade. No entanto, como em todo processo de transição, deve-se lembrar que esse é um momento de reorganização e reestruturação, que oferece inúmeras novas possibilidades, das quais se pode usufruir com grande satisfação”. Por isso, ela listou algumas dicas que ajudam o idoso a viver com mais alegria, protagonismo e autonomia.
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Texto: Renata Parisotto
Fotos: Adroir Fotógrafo e Arquivo Prefeitura de Farroupilha
Designer e Criação: Jonas Viega
imprensa@farroupilha.rs.gov.br
Data de publicação: 11/06/2017